São assim as minhas noites…

Lavei da minha pele o calor que se fez sentir hoje, faço sempre um esforço hercúleo para tirar os dias do meu corpo. A cada duche esfrego, tento tirá-los de cima de mim. Gosto do toque da noite na pele húmida acabada de sair do banho. Confere-lhe uma pureza, um toque peculiar. Subo as escadas e encontro a minha cama de fim-de-semana. Procuro uma t-shirt que não me cobre o corpo todo, e somente toca nas minhas ancas. Tenho vontade de voltar a sair para a rua. Com os pés descalços saio para o jardim. Ouço o concerto dos grilos que aproveitam o quente da noite para bater as asas. Sento-me, e deixo as pernas soltas sobre o relvado orvalhado. O toque da relva faz cócegas, mas eu não me importo. Deixo o cabelo molhado caídos sobre os ombros e as gotas que caiem, escorrerem sobre as minhas pernas descobertas. As gotículas criam caminhos que espero que venhas a percorrer com as pontas dos teus dedos… Mas hoje a noite é só minha e das estrelas que forram o céu. Como é bom aperceber-me do silêncio da noite. Os insectos acalmam-se, e sou capaz de ouvir as gotas a cair. A percepção de que está tudo parado a repousar e eu estou ali sentada incapaz de fechar os olhos e dormir é o suficiente para fazer as lágrimas invadir os meus olhos fatigados. Também quero dormir… Dormir sem sonhar. Repousar a cabeça na almofada e desligar. OFF. Trago espelhado no rosto o cansaço, e já nem me dou ao esforço de o disfarçar. Quero dormir… Volto para dentro em bicos de pés, deito a cabeça sobre a almofada e fico a contemplar as estrelas que forram o tecto do meu quarto meticulosamente decorado, e propositadamente desarrumado. Não tenho aqui a tua mão a tocar na minha, nem o calor do teu corpo encostado ao meu. Sei que quando já não conseguir distinguir as estrelas, também eu me irei apagar, fechar os olhos por extenuação e entrar no mundo paralelo do sonho. São assim as minhas noites…